Contrato transforma Sikêra em prejuízo de R$38 milhões para a RedeTV!
09/07/2021 às 18h50
Sikêra Jr. se transformou em um prejuízo milionário para a RedeTV!. Após ofender a comunidade LGBTQIA+ e xingá-la de “raça desgraçada”, o apresentador já perdeu quase 40 anunciantes em duas semanas. Sua saída até foi cogitada pela emissora, mas seu contrato impede que isso aconteça. O acordo válido até 2027 possui uma multa total de R$38 milhões. São R$20 milhões para quem decidir rescindir, mais 50% dos salários até o fim do vínculo.
Segundo o Notícias da TV, Sikêra Jr. ganha R$6 milhões por ano – R$500 mil por mês. A rescisão não é apenas uma possibilidade da RedeTV!. Se quiser, a TV A Crítica, canal independente de Manaus (AM), que é a responsável pela produção do Alerta Nacional, também pode comunicar seu desejo de romper o acordo com a emissora.
Contudo, se isso chegar a ser feito, é ela quem terá de pagar o valor para a TV de Amilcare Dallevo e o apresentador policial. Apesar de A Crítica fazer parte de um grupo forte no Norte do país, o SCC (Sistema Calderaro de Comunicação, que abrange diversos veículos de imprensa em Manaus), essa possibilidade é remota pela robustez do pagamento.
“A parte que der causa à rescisão unilateral antecipada, ou à rescisão fundada por descumprimento, incorrerá em multa equivalente a R$20.000.000 (20 milhões de reais), reduzida proporcionalmente ao tempo restante para a vigência convencionada, além do pagamento de 50% do valor dos salários restantes”, diz o trecho do contrato que fala a respeito do caso.
Como Sikêra Jr. ganha R$6 milhões por ano, a multa correspondente a metade desse valor corresponderia a R$3 milhões anuais. O contrato válido até 2027 consta que Sikêra custaria R$18 milhões a mais para a RedeTV!, caso a emissora decidisse retirar o Alerta Nacional da grade de programação. Essa quantia seria somada aos R$20 milhões já mencionados.
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Durante a pandemia e a crise econômica decorrente da crise sanitária, o valor é considerado impagável para a RedeTV! e a TV A Crítica. Atualmente, o mercado de comunicação atua por contratos mais enxutos e por obra justamente a fim de evitar multas com valores exorbitantes. O contrato de Sikêra Jr. é um dos poucos que tem essa prorrogativa.
Uma solução para a direção da RedeTV! seria uma decisão judicial que impedisse a produção do programa. O contrato prevê que “não caberá qualquer ônus à RedeTV! se a transmissão do programa não puder ser efetuada por: determinação ou questionamento causado por conflito entre o conteúdo do programa e as normas vigentes, determinações dos órgãos legais competentes ou disposições firmadas com terceiros, ainda que posteriormente a este contrato”.
Resumidamente, as ações movidas pela Aliança Nacional LGBTQIA+ e o Ministério Público Federal, que pedem multa de R$15 milhões e retratação pelos posicionamentos homofóbicos de Sikêra Jr. em seu programa, podem servir de pretexto para a RedeTV! rescindir o contrato, se ela for condenada.
Por conta do contrato, também é vetado que a TV A Crítica faça “práticas que prejudiquem a imagem da RedeTV!, à sua audiência e às suas relações com seus anunciantes”. Toda a produção do Alerta Nacional, até os salários de produtores e repórteres, é bancada pela TV A Crítica.
A RedeTV! só costuma gastar com cachês de ações feitas por Sikêra Jr. (15% do valor arrecadado por publicidade) e banda a operação técnica de transmissão e repórteres que atuem fora da área de concessão da TV A Crítica – no caso, fora do Amazonas.
Em relação aos lucros com publicidade, o contrato consta que a RedeTV! fique com 65% do seu lucro. Outros 25% ficam com A Crítica. E os 10% restantes são repassados para a MCZ PLY, de Sikêra Jr. Inclusive, é a empresa dele que banca os custos das ações judiciais que o Alerta Nacional sofre, conforme estabelecido no vínculo.
No dia 28 de junho, o grupo Sleeping Giants começou um trabalho em parceria com o roteirista Pedro HMC, ativista LGBTQIA+, a fim de abordar os anunciantes do Alerta Nacional e denunciar o posicionamento homofóbico feito pelo apresentador que, três dias antes, ao vivo em rede nacional, chamou os membros da comunidade LGBTQIA+ de “raça desgraçada”.
Os prejuízos arcados pela RedeTV! só vem aumentando desde então. Mais de 30 empesas que anunciavam na emissora e no programa policial romperam seus contratos por não compactuarem com atitudes contra gênero, raça, opção sexual e etnia. Além disso, os intervalos comerciais do Alerta Nacional também sofreram perdas, e foram reduzidos em 57%. Antes do ocorrido, o espaço era disputado por empresas e, atualmente, somente campanhas do Governo Federal e chamadas instituições para outros programas da casa ocupam o espaço dos anúncios.
A RedeTV! levou cinco dias para se pronunciar a respeito do caso, e classificou como um “episódio lamentável”, além de afirmar que a emissora é contra qualquer forma de preconceito.
Os vídeos de Sikêra Jr. publicados na página oficial da RedeTV! no YouTube foram excluídos, e até o tótem de papelão que fica na entrada da RedeTV!, com o rosto do apresentador, desapareceu. O incômodo com o ocorrido foi tanto, que Nathália Arcuri se demitiu da RedeTV! por não apoiar a forma como a direção tratou o caso.
Autor(a):
Flavia Fasanella
Tenho 23 anos e estou cursando o último semestre de Jornalismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Minha maior paixão, desde sempre, foi a escrita, e usar o Jornalismo para tocar a vida das pessoas.