Marco Pigossi revela que já namorou homem escondido por oito anos e se afastou do pai

07/01/2022 às 21h23

Por: Flavia Fasanella
Marco Pigossi abre o coração e expõe sofrimento para se aceitar gay: “Pedia a Deus para me consertar” (Reprodução)
Marco Pigossi abre o coração e expõe sofrimento para se aceitar gay: “Pedia a Deus para me consertar” (Reprodução)

O ator Marco Pigossi revelou que ser galã das novelas da Globo o obrigou a esconder sua sexualidade. Sem referências gays em casa, ele acabou sentindo medo, teve crise de pânico e chegou a tomar antidepressivos para lidar com essa crise existencial. Durante um depoimento para a revista Piauí, cedido ao repórter João Batista Jr., o artista ainda contou que viveu um romance escondido durante oito anos com um namorado e que, embora a família soubesse de sua orientação sexual, se afastou do pai por ele ter votado em Jair Bolsonaro.

“Quando comecei a perceber minha orientação, achei – ou quis achar, na verdade – que se tratava de algo passageiro. Não tinha referência alguma no meu convívio e, quando assistia à televisão, nada servia como alento. Nas novelas ou programas de humor, quase sempre os gays eram retratados de forma caricata, pejorativa. Então, me sentindo solitário e sem amparo, me restava torcer para que fosse apenas uma fase”, revelou o ator, ao relembrar que nenhum gay frequentava a casa dos seus pais em São Paulo, pelo menos assumidamente.

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Aos 15 anos de idade, Marco Pigossi disse que começou a estudar teatro como um modo de fuga. “Podia ser qualquer coisa, inclusive o que de fato sou. Quando voltei da primeira aula, falei para a minha mãe: ‘Vou ser ator'”.

Alguns anos depois, depois de fazer alguns personagens secundários na Globo, Marco se destacou por sua atuação de Cássio, um gay afeminado que falava o bordão “fiquei rosa chiclete” em Caras & Bocas (2009). Com o sucesso desse papel, ele disse que não havia “nenhuma margem de chance” para se assumir. “Se fizesse isso, todas as portas se fechariam para mim de forma automática”.

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“Sentia calafrio só de pensar que o público poderia desconfiar que a sexualidade do personagem e do ator era a mesma. Essa possibilidade me aterrorizava. Os fãs vinham falar comigo, repetindo o bordão ‘rosa chiclete’, e eu estendia a mão com firmeza, fazia uma voz forte, para espantar suspeitas. Era como se estivesse usando uma máscara de heterossexual. A alegria de fazer um personagem que caiu no gosto do público me trouxe aflição. Precisei de ajuda. Recorri à terapia durante a gravação da novela. Fazia análise três vezes por semana”.

Marco Pigossi ainda afirmou que sua aparência heteronormativa funcionava como “uma defesa, uma forma de tentar me encaixar e parecer normal”. “O tal privilégio do armário me ajudava a proteger minha carreira, a proteger a mim mesmo da hostilidade, da violência, tão comuns no trato das populações LGBTQIA+ no Brasil”.

Sua carreira começou a deslanchar na televisão e, em pouco tempo, ele acabou se tornando um dos maiores galãs da rede Globo. Fez par romântico com Carolina Dieckmann, Paolla Oliveira e Isis Valverde. Pigossi também disse que, em determinado momento de sua carreira, acabava se passando por um “heterossexual por pura e simples manifestação de medo”.

“Medo da minha família, medo dos meus amigos, medo da minha carreira. Até então, eu nunca tinha visto um galã de novelas falar abertamente sobre sua orientação sexual. E meu medo não era em vão”.

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No auge de sua carreira, Marco Pigossi leu uma entrevista de Silvio de Abreu para a Folha de S. Paulo na qual o diretor de dramaturgia da Globo dizia que os atores gays “não deviam assumir sua sexualidade publicamente, pois donas de casa e telespectadoras em geral enxergam o galã como ‘machão'”.

“Ele dizia que um ator assumido era um ‘bobo’, pois a revelação fatalmente prejudicaria sua carreira. Foi uma entrevista muito marcante para mim. Era uma declaração clara de que não era bem-vindo que um ator homossexual abordasse um assunto público – e isso vinha da boca de uma figura de grande proeminência na emissora”, revelou o ator ao relembrar o trecho da entrevista ao jornal.

Marco Pigossi revela que já namorou homem escondido por oito anos e se afastou do pai

Marco Pigossi revela que já namorou homem escondido por oito anos e se afastou do pai Foto: Reprodução

Para Pigossi, tudo isso era um modo de violência. “Um gay assumido não tem capacidade para viver e interpretar um galã? Eu vivia numa atmosfera de temor. Sonhei inúmeras vezes que os diretores da novela me chamavam no set para dar uma prensa, dizendo assim: ‘Pigossi, você precisa ser mais machão… Seu personagem está ficando gay”.

“A mera possibilidade de que soubessem da minha vida sexual me paralisava, pois eu tinha a percepção clara de que minha carreira seria destruída. E ser ator me cura, me preenche. Eu seria um vácuo, um vazio, se as portas se fechassem”, abordou Marco Pigossi, que manteve um relacionamento com um homem durante oito anos sem assumi-lo publicamente.

“Vivíamos juntos no mesmo apartamento. Hoje, olhando esse passado, me dou conta de que vivi situações absurdas. Em passeis nos shoppings, por exemplo sempre que eu encontrava um conhecido por acaso, meu namorado automaticamente seguia andando para me proteger, como se eu estivesse sozinho. Ele via o tamanho do meu desespero. (…) Era um conflito interno constante: eu não podia deixar o medo me vencer, eu tinha que ir ao cinema, mas, ao mesmo tempo, sentia um pânico de ser descoberto gay”.

Tenho 23 anos e estou cursando o último semestre de Jornalismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Minha maior paixão, desde sempre, foi a escrita, e usar o Jornalismo para tocar a vida das pessoas.

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